sábado, 18 de dezembro de 2010

Por que o Governo não reduz a taxa de Juros?

Neste artigo iremos explicar  como a taxa de juros interfere na taxa de câmbio e se faz tão importante para controlar a economia do país. Porque o Governo insiste em manter tão alta a taxa de juros se sabemos que a queda desta dá ânimo à economia e estimula o crescimento do país?
Para começar vamos definir a taxa de juros como sendo a remuneração que o detentor do dinheiro cobra para conceder um empréstimo. O Governo determina uma taxa básica (SELIC) que norteia a economia brasileira e os negócios com títulos públicos registrados no BACEN . Assim, de uma forma bem simples, podemos dizer que a taxa de juros é o preço para se obter a nossa moeda.
Desde meados dos anos 90, quando o Brasil adotou o Plano Real e passou a ter inflação moderada ao invés de hiperinflação, o país segue fortalecendo sua economia e consolidando suas instituições financeiras. Um dos cuidados que o país tem tomado para se manter economicamente saudável é o controle rigoroso desta inflação e, para isso, o principal instrumento que tem em suas mãos é a taxa de juros. Ao alterá-la, O BACEN é capaz de aquecer a economia e influenciar nos principais indicadores de crescimento do país.
Quando os juros estão altos existe uma procura por títulos do mercado brasileiro, pois assim, os investidores indiretos, como são chamados, pois não estão investindo diretamente na economia do país, ganham juros altos. A taxa de juros alta atrai estes investidores especulativos que só estão interessados nos ganhos fáceis dos juros dos títulos brasileiros.
Quando ocorre esta procura por papéis brasileiros há uma grande demanda por reais, ou seja, ocorre uma valorização da moeda nacional. Esta valorização alimenta a importação de produtos estrangeiros, pois estes ficam baratos já que a nossa moeda está valorizada, e desestimula as exportações brasileiras, pois nossos produtos ficam caros já que a moeda estrangeira está barata. Desta maneira, os juros interferem na inflação, pois haverá mais produtos estrangeiros no país, maior concorrência com produtos nacionais e menores ficam os preços no mercado, ou seja, menor inflação. Concluímos então, que quanto maiores os juros, menor a inflação.
Além disso, quando os juros estão altos, menor é o crédito do consumidor. Por exemplo, quando uma pessoa quer adquirir um produto, mas não consegue financiá-lo por que os juros estão altos, há uma queda no consumo generalizado  havendo então, uma queda dos preços para estimular as vendas e, consequentemente, a inflação diminui.
Assim, a taxa de juros é usada como instrumento de controle da inflação e cabe ao Governo decidir se o que é melhor para a economia no momento é uma maior taxa de juros com inflação baixa ou uma menor taxa de juros e inflação mais alta, ou seja, ou o país opta por um modelo econômico que passa pelos juros elevados e provável recessão ou por metas inflacionárias maiores.

sábado, 20 de novembro de 2010

O que é esta tal taxa de cãmbio!

Nos últimos meses temos escutado muito sobre um possível real menos valorizado sustentado por uma menor taxa de juros no nosso país. Todos os candidatos e até a nova presidente prometeram que esta seria uma importante meta a ser cumprida neste mandato. Neste artigo vamos entender um pouco o que é esta tal taxa de câmbio e como funciona a valorização e desvalorização tão discutida e importante para a nossa economia.

De forma bem simples podemos definir que a taxa de câmbio nos diz quantos reais são trocados por um dólar, quantos reais são trocados por uma libra esterlina, quantos reais são trocados por um euro, etc.

Agora, para entendermos o que é a desvalorização da taxa de câmbio, considere este exemplo:

Situação Inicial:                 US$ 1,00 = R$ 1,00
Situação de Desvalorização:       US$ 1,00 = R$ 1,69

Quando temos a desvalorização do real em relação à situação inicial, são necessários mais reais por cada unidade de dólar. Ou seja, ficou mais caro adquirir dólares e temos que pagar mais pela unidade monetária estrangeira.
A situação de desvalorização de uma moeda implica que com ela se passa a comprar uma menor quantidade de moedas estrangeiras. Ficou mais caro adquirir produtos comprados no exterior, o que faz diminuir as importações. Enquanto isso, fica mais barato para estrangeiros adquirirem produtos brasileiros, estimulando as exportações.

Já para entendermos o mecanismo de valorização considere o seguinte exemplo:

Situação Inicial:                  US$ 1,00 = R$ 1,00
Situação de Valorização:           US$ 1,00 = R$ 0,50

Quando temos a valorização do real em relação à situação inicial, são necessários menos reais por cada unidade de dólar. Ou seja, ficou mais barato adquirir dólares e temos que pagar menos pela unidade monetária estrangeira, o que faz aumentar as importações. Enquanto isso, fica mais caro para estrangeiros adquirirem produtos brasileiros, desestimulando as exportações.

Bom, já vimos os efeitos de uma desvalorização e de uma valorização da taxa de câmbio sobre as exportações e sobre as importações de bens e serviços. Mas, como é fixada a taxa de câmbio? Existem critérios diferentes de fixação da taxa de câmbio. Vejamos alguns desses critérios:
Taxa de câmbio nominal fixa. Ocorre quando o Banco Central se compromete a comprar e vender moeda estrangeira a um preço nominal pré-estabelecido.
Taxa de câmbio flutuante. Ocorre quando o preço é estabelecido no mercado, oscilando livremente de acordo com a oferta e a procura por moedas estrangeiras.
Taxa de Câmbio limitadamente flexível ou taxa de câmbio flutuante administrada. Ocorre quando o Banco Central fixa duas taxas de câmbio extremas (uma máxima e a outra mínima), entre as quais deixa o mercado fixar a taxa de câmbio livremente. Quando a cotação, em moeda nacional, da moeda estrangeira cai abaixo do limite mínimo estabelecido, o Banco Central entra no mercado comprando moeda estrangeira. Quando a cotação, em moeda nacional, da moeda estrangeira sobe além do limite máximo, o Banco Central entra no mercado vendendo moeda estrangeira.
Taxa de câmbio com flutuação suja (“dirty floating”). A taxa de câmbio é estabelecida no mercado, com o Banco Central só interferindo para amenizar as oscilações especulativas.

No Brasil, tivemos no período de agosto de 1968 a fevereiro de 1990, um sistema de taxa de câmbio real fixa, conhecido como sistema de minidesvalorização da taxa de câmbio. De março de 1990 até junho de 1994 tivemos um sistema de taxa de câmbio com flutuação suja, com taxa de câmbio sendo determinada no mercado e o Banco Central (BACEN) interferindo para ditar o caminho a ser seguindo pela taxa de câmbio. De julho de 1994 a janeiro de 1999 o país adotou um sistema de taxa de câmbio limitadamente flexível, onde o BACEN estabelece as “bandas cambiais”, isto é, os limites máximos e mínimos da taxa de câmbio, a partir dos quais teoricamente o BACEN interfere no mercado. Desde janeiro de 1999 o Brasil voltou a ter um sistema de taxa de câmbio com flutuação suja, onde a taxa de câmbio é definida no mercado, com o BACEN interferindo para amenizar grandes oscilações.

No próximo artigo iremos tratar destas oscilações especulativas da taxa de câmbio e de que forma a taxa de juros interfere neste mecanismo.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Entenda o que é ¨ Risco País¨

Como professora universitária e amante de economia, vendo que é muito difícil para várias pessoas compreenderem alguns conceitos econômicos básicos encontrados no nosso cotidiano, resolvi através de artigos neste blog desmistificar algumas expressões econômicas com uma linguagem fácil  que possa estimular a leitura de notícias afins.

    A expressão “risco país” entrou para a linguagem cotidiana do noticiário econômico, principalmente em países que vivem em clima de instabilidade.

O que é o risco país?

O risco país é um indicador que tenta determinar o grau de instabilidade econômica de cada país.
O risco país é um índice denominado Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+) e mede o grau de “perigo” que um país representa para o investidor estrangeiro. Ou seja, é um número que mede o nível de desconfiança ou risco dos mercados financeiros em relação aos países emergentes e abrange 21 países: México, Argentina, Nigéria, Venezuela, Colômbia, Rússia, Turquia, Ucrânia, Peru, Filipinas, Panamá, Pol6onia, Malásia, Coréia do Sul, Bulgária, Qatar, Equador, África do Sul, Marrocos, Egito e Brasil.

Quem é responsável pelo cálculo deste índice?

Este índice é calculado por agências de classificação de riscos e bancos de investimentos. O banco de investimentos americano J. P. Morgan, que possui filiais em diversos países latino-americanos, foi o primeiro a fazer essa classificação.

Que variáveis econômicas e financeiras são consideradas no cálculo do índice?

Os investidores internacionais utilizam os títulos do tesouro americano como aplicação de referência, por ser o mais seguro do mundo, logo 1,770 pontos para os títulos do Brasil significa, na prática, que para os investidores internacionais os títulos emitidos pelo Brasil, só compensaria os riscos, se negociados a uma taxa de 17,7 pontos acima de um título do tesouro americano.
O J. P. Morgan, desde 1995,  analisa o rendimento dos instrumentos da dívida de um determinado país, principalmente o valor (taxa de juros) com o qual o país pretende remunerar os aplicadores em bônus, representativos da dívida.
É como se lá fora alguém estivesse de olho na capacidade brasileira de pagar o dinheiro que pegou emprestado. Os títulos são a garantia. Se a economia brasileira não vai bem – os títulos perdem o valor. E aí, na visão do mercado, aumenta o risco do Brasil não cumprir seus compromissos.

Como se expressa o risco país?

Em pontos básicos. Sua conversão é simples: 100 unidades equivalem a uma sobretaxa de 1%.
Exemplo: 1.770 pontos =  taxa 17,70%

O que significa este índice para os investidores?

O nível de risco de um país mostra a certeza ou a falta de certeza, que os investidores internacionais têm de que um país vá honrar seus compromissos. Quanto mais alto for este número, maior será a possibilidade deste país vir a dar um calote na dívida. Isto afasta os investidores, logo o país terá de oferecer juros mais altos para convencer os investidores a comprar seus títulos – é um prêmio risco (spreed).
É um orientador. O risco país indica ao investidor que o preço de se arriscar a fazer negócio em um determinado país é mais ou menos elevado.


E quais os efeitos para a economia ter o país classificado como “risco-perigoso”?

As principais conseqüências são uma retração do fluxo de investimentos estrangeiros e um menor crescimento econômico, o que acaba acarretando um aumento do desemprego e salários menores para a população.
A imagem manchada por um alto índice do país causa grandes danos ao país, pois, além de seu impacto no mercado financeiro, desestimula até mesmo os investimentos diretos, que viriam aqui com suas empresas para produzir e vender, desenvolvendo atividades que, na realidade, muito pouco e indiretamente seriam afetadas por este índice.
Internamente, também assusta investidores e consumidores, prejudicando a atividade produtiva.
Com a divulgação do índice, o preço do dólar sofre elevação, fato que provoca aumento da dívida pública interna, pois boa parte da dívida é indexada ao dólar, aumentando ainda mais o prejuízo.